Satoshi Nakamoto, o misterioso criador do Bitcoin, teve novas correspondências de e-mails reveladas na noite de ontem. Mas diferente do que poderíamos imaginar, elas trazem mais mistérios que respostas sobre quem era Nakamoto.
Os novos e-mails foram compartilhados com Michael Kaplikov – professor da Pace University em Nova York – por Nathaniel Popper, que escreveu “Digital Gold: Bitcoin and the Inside Story of Tthe Misfits Millionaires Try to Reinvent Money”.
Popper teve acesso a três correspondências entre Hal Finney e Satoshi Nakamoto datando dos primeiros dias do bitcoin. Os e-mails foram cedidos por Fran Finney e a autenticidade deles foi checada pelo portal Coindesk.
O e-mail do fork
Satoshi trabalhou por um ano e meio na construção do Bitcoin, nesse período de pré-lançamento apenas algumas pessoas tiveram acesso aos planos e ao código do programa.
Em um e-mail enviado no dia 19 de novembro de 2008, Hal Finney questiona Nakamoto sobre a viabilidade do seu sistema de transações. Nakamoto lançou o white paper da criptomoeda em 31 de outubro de 2008 e a primeira dúvida que surgiu foi:
“Ah, eu percebi, obrigado pelas correções.
Parte da discussão e receio sobre a perfomance talvez seja relacionada ao tamanho eventual da rede P2P de nodes. Quão grande você imagina que ela se torne? Dezenas de nodes? Milhares? Milhões?
E para os clientes, você imagina que isso possa escalar para perto de 100% das transações financeiras mundiais? Ou você vê isso sendo usado por algum tipo de “núcleo” com um subconjunto de transações que têm algum requerimento especial, com outras transações usando um sistema de pagamentos que talvez seja baseado no Bitcoin?“
Anos depois, a discussão levaria a um fork (uma separação do Bitcoin) que divide a comunidade da criptomoeda até hoje.
E-mails de janeiro de 2009
O criador do Bitcoin revelou ao mundo sua criação no dia 31/10 com o whitepaper, mas só lançou a criptomoeda em 3 de janeiro de 2009 (data do primeiro bloco minerado) e a rede não foi ao ar até o dia 8 quando ele publicou o código-fonte da sua criação.
No mesmo dia, Satoshi publica na lista de e-mail cypherpunk sobre a rede estar online e manda um novo e-mail para Finney com as mesmas informações:
Ao que parece Hal Finney respondeu o e-mail de Nakamoto:
“Olá, Satoshi, muito obrigado pela informação! Eu devo ter um tempo para olhá-lo nesse final de semana. Estou procurando aprender mais sobre o código.
Hal”
Finney já havia publicado e-mails privados com Nakamoto ao Wall Street Journal. Mas estes dois acima são novos e apesar de simples revelam mais mistérios sobre a figura de Satoshi.
Horários misteriosos
Levando em conta os horários dos emails de janeiro de 2009, você poderia pensar que Satoshi Nakamoto estivesse falando do Japão, como seu pseudônimo pode sugerir.
Porém, seu fuso horário aparentava estar oito horas adiantado do GMT (horário do meridiano de Greenwich), enquanto o Japão estava a nove horas adiantadas do GMT naquele momento.
Além disso, estranhamente o servidor de email de Finney recebeu ambos os emails antes do servidor de Satoshi, o que apresenta um enigma.
Derek Atkins, amigo de Finney e também membro da lista de emails de criptografia, sugeriu que o problema poderia ser atribuído à forma como o computador de Satoshi foi configurado.
“Vamos supor que o sistema do remetente esteja definido no horário local em vez de GMT (que é/era comum no Windows), mas também suponha que haja uma configuração incorreta no fuso horário local do computador de envio. Isso poderia explicar a discrepância.
No entanto, se o sistema estiver configurado para a hora local e não para DST [Horário de verão], isso também explicaria a discrepância. Em 31 de outubro de 2008, havia uma diferença de 12 horas de EDT para ‘GMT + 8’, enquanto em janeiro haveria uma diferença de 13 horas porque os [EUA] voltaram ao horário padrão.”
Hal, que inclusive era um vizinho próximo de Dorian Nakamoto, outra figura icônica da história do Bitcoin, morava nos Estados Unidos, no estado da Califórnia. Nos EUA, o horário foi movido uma hora para trás em 2 de novembro de 2008 e então a diferença com o Japão aumentou em uma hora.
A princípio, essa parecia ser uma explicação plausível (supondo que Satoshi não estava realmente no Japão), mas os e-mails de Satoshi para a lista de correspondência de criptografia de 8 de novembro de 2008 e 8 de janeiro de 2009 também não têm carimbos de data contraditórios.
É possível que Satoshi tenha inicialmente acertado o relógio de seu computador para o horário do Japão com base na diferença de fuso horário pré-horário de verão e depois se esqueceu de fazer o ajuste. Mas isso não explicaria por que seus outros e-mails pós-horário de verão não exibem a mesma anormalidade.
Veja também: Pesquisa sugere que Satoshi Nakamoto lançou Bitcoin em Londres
Com base no e-mail de Satoshi para Finney de 12 de janeiro, sabemos que nessa época ele estava em algum lugar com conectividade limitada, então talvez o relógio interno de seu computador estivesse fora de sincronia:
“Infelizmente, não consigo receber conexões de onde estou, o que tornou as coisas mais difíceis. Seu nó recebendo conexões de entrada era o principal fator para manter a rede funcionando nos primeiros dois dias.”
É possível que imediatamente após enviar um e-mail com carimbos de data “normais” em 8 de janeiro, Satoshi tenha viajado para um local em um fuso horário diferente com conectividade limitada, do qual enviou um e-mail para Finney no dia seguinte.
Outra possibilidade é que Satoshi (ou os vários membros da equipe por trás do moniker) usaram vários computadores, alguns dos quais foram configurados com precisão e outros não. Mas nenhuma dessas teorias parece bastante satisfatória, segundo Kaplikov.
Uma teoria mais bizarra depende da hipótese popular de que o próprio Finney era Satoshi. Se presumirmos que ele conectou o e-mail de Satoshi à sua conta de e-mail principal (hal@finney.org) por conveniência, para que ele não tenha que fazer login em sua conta Vistomail todas as vezes, isso pode explicar porquê o servidor Finney.org receberia antes do servidor Anonymousspeech.com.
Isso também explicaria por que Finney optou por não compartilhar esses e-mails com o Wall Street Journal e por que aqueles que ele compartilhou não tinham a maioria dos dados do cabeçalho. Mas devemos admitir que, assim como as outras teorias mencionadas acima, não existem evidências realmente concretas para dar alguma certeza.
Fonte: https://cointimes.com.br/