sábado, 16 de maio de 2020

Menos bitcoins, maior valor?

Crédito: Istock

A pandemia do novo coronavírus derrubou os mercados do mundo e uma das preocupações dos investidores é sobre quanto tempo levará para que os ativos possam recuperar os níveis pré-crise. Nesse exercício de futurologia, alguns poucos investimentos financeiros têm trazido perspectivas mais otimistas. Entre eles estão o ouro e principalmente os criptoativos. No caso destes últimos, existe um grande motivo para o otimismo. Na segunda-feira 11 o bitcoin passou por um novo halving, nome dado ao corte pela metade nas emissões dessa criptomoeda. O mecanismo serve para elevar a cotação no futuro, dentro do princípio de que a escassez valoriza o ativo.
Apresentada ao mundo em outubro de 2008, em plena crise do subprime, o bitcoin é um dinheiro digital com função semelhante ao papel moeda. A primeira transação aconteceu em janeiro de 2009. A diferença é que ela não é emitida por nenhum governo e sim em uma rede de computadores espalhadas pelo mundo, chamados de mineradores. Em sua criação, ficou estabelecido que haverá um número máximo de 21 milhões de bitcoins emitidos até o ano 2140. E, para que isso ocorra dentro do espaço de tempo programado, é necessário haver um halving a cada quatro anos. Ao reduzir a oferta pela metade, evita-se o processo inflacionário.
Até 11 de maio eram emitidos 12,5 bitcoins a cada dez minutos. Com o halving da última semana, a taxa caiu para 6,25. Como a demanda pelo ativo tem aumentado, acredita-se que a lei da oferta e da procura influencie positivamente o preço da moeda. “A valorização deve acontecer aos poucos, num prazo de 12 meses”, afirma Ricardo Da Ros, executivo responsável pelas operações no Brasil da plataforma argentina de investimento digital Ripio. “Quem pensa no curto prazo deve tomar bastante cuidado.”Fitwel Champion.
Os dois primeiros halvings, em 2012 e 2016, trouxeram bons resultados aos investidores. A maior dificuldade agora é a conjunção de volatilidade e falta de liquidez. O mercado de criptomoedas é historicamente mais volátil até que as bolsas de valores. O bitcoin começou 2020 perto de US$ 7 mil, chegou a US$ 10 mil em fevereiro, caiu abaixo de US$ 4 mil em março e subiu para US$ 9 mil no início de maio. Claro que a pandemia influi nessa variação. No futuro, o fato de que muitos investidores estarão menos capitalizados também pode pressionar a cotação da cripto para baixo. Prova é a decepção de quem esperava ver uma disparada do valor depois do terceiro halving. Assim que o processo foi realizado, na segunda-feira 11, o bitcoin estava cotado a US$ 8.529, com uma leve queda de 0,36% no acumulado de 24 horas. Daniel Coquieri, cofundador da plataforma BitcoinTrade reconhece que a pandemia prejudicou o desempenho da criptomoeda, já que em momentos de crise os investidores sacam os recursos para ter em mãos dólares ou reais com a finalidade de honrarem compromissos do cotidiano. Ele acredita que, diferentemente do mercado tradicional, que é impactado pela paralisação das economias, as criptomoedas têm maior potencial de recuperação por sua independência. Como não são emitidas por governos, nem estão atreladas a ações de políticas econômicas, elas podem operar livres de preocupações de financiamento público. “Quando o mercado passar a receber um número menor de notícias negativas, os investidores irão retornar a confiança em bitcoins”, diz Coquieri. Para ele, a valorização esperada com o último halving ocorrerá num período entre seis e 18 meses. US$ 250 mil O primeiro halving possibilitou a valorização da moeda em 200 vezes. No segundo, o aumento foi de 4.000%. Mas isso aconteceu num prazo de três anos após o processo. Não foi imediato e nem linear, com muitos altos e baixos. Em 2012, o bitcoin passou de uma valorização de US$ 3 para US$ 1,2 mil. Em 2016, já havia caído para US$ 152, para então chegar a US$ 19,3 mil em dezembro de 2017, segundo o Dossiê Halving, relatório emitido pela Ripio, no início de maio.
“A valorização deve acontecer aos poucos, num prazo de 12 meses” Ricardo Da Ros Executivo da Ripio. (Crédito:Divulgação)
A expectativa com base nesse histórico é tamanha que alguns analistas previram que o bitcoin chegará a US$ 250 mil em poucos meses. Ricardo Da Ros, da Ripio, mostra-se um pouco mais cético. Em sua análise, o padrão não vem se repetindo neste ano, tanto que faltando poucos dias para o halving não havia nenhuma indicação de explosão de valor do ativo similar aos anteriores. “Minha perspectiva é de alta valorização em um prazo de 12 meses e não dá para prever em qual patamar de preço a criptomoeda vai chegar.”
Se a incerteza quanto ao futuro é alta, o retorno tem sido ainda mais. O desempenho da criptomoeda tem se mostrado melhor do que os de muitos ativos tradicionais. Analisando o comportamento durante o ano, até 5 de maio, ela trouxe retorno de 68% quando negociada em reais e de 23% em dólar. No mesmo período, o ouro rendeu 11%, o dólar, 38%, enquanto os índices S&P 500, Ibovespa e a cotação do petróleo (WTI) apresentaram resultados negativos de 10%, 30% e 60%, respectivamente.

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